Inovação, Física e Matemática
O chamado "choque tecnológico" implica inovação tecnológica. E a inovação tecnológica só se consegue com competências fundadas nas ciências da engenharia. E essas têm por base a Matemática e a Física e, em alguns casos, a Química, a Biologia e a Geologia.
Como se pode falar em inovação tecnológica num país em que, nos últimos 30 anos, se destruiu nos jovens o hábito de gostar de Matemática ou de gostar de Física? Em que um governo propõe e outro faz sair uma Lei de Bases de Acção Educativa tão absurda e irresponsável que permite a entrada em Engenharia de estudantes que nunca tiveram Física? E governos anteriores que deixaram entrar para as licenciaturas de Matemática e de Física estudantes, com baixíssima classificação, que não conseguiram entrar noutros cursos. Que detestavam Matemática e detestavam Física. Que se transformaram em professores de Matemática e em professores de Física. Os alunos desses professores estão agora a chegar aos cursos de Engenharia. Jovens que não foram despertados para as mais elementares noções da Matemática nem para a curiosidade dos mais aliciantes fenómenos da Física. Jovens que andam em Engenharia sem gostar de Engenharia. Porque é difícil gostar de Engenharia sem haver saboreado o gozo da dedução matemática ou o que há de excitante na experimentação em Física.
E tudo isto num tempo em que as transformações da sociedade são mais exigentes em termos de inovação! Que azar o nosso!
Associamo-nos ao alerta lançado pelo "Parecer da Sociedade Portuguesa de Física sobre a Proposta de Reforma do Ensino Secundário" datado de Janeiro de 2003 que responsabiliza os governos que permitiram uma tal situação. Que contrariaram, neste país, a capacidade de inovação. Com maior gravidade para uma Lei de Bases que dispensa da Física os candidatos aos cursos de Engenharia! Irresponsabilidade inadmissível! Sem bases de Matemática e de Física não há inovação tecnológica. Sem inovação tecnológica não há competitividade. Sem competitividade o país afunda-se. Alertemos os políticos e os professores. Para, através da exigência, conseguir criar nos jovens o gosto pela Matemática e pela Física Experimental. Porque é através da exigência que se consegue cultivar a apetência. Os jovens gostam da exigência porque sabem que ela traz a competência. O nosso ensino tem feito exactamente o contrário.
As Escolas Superiores de Educação preocupam-se, e muito bem, em ensinar aos professores a maneira de transmitir o conhecimento. Ensinam-lhes as técnicas da Pedagogia e da Didática da Matemática e das outras Ciências mas nao lhes ensinam Matemática nem as outras Ciências. É melhor ter uma laranja sumarenta espremida à mão do que técnicas sofisticadas para espremer uma laranja sem sumo. Competência científica é que é preciso dar a alguns professores. Mas isso é nas Faculdades de Ciências.
Estamos a falar de um problema que, se resolvido, poderá fazer de nós, a longo prazo, um país desenvolvido, com inovação e competitividade.
Esta luta é de todos, e deve ser sobretudo dos políticos, se realmente pretendem desenvolver este país. Alertamo-los para esta doença que é grave, mas curável a médio prazo. Mas não são as Escolas Superiores de Educação, só por si, que a curam.
Será que os Ministérios da Educação e da Ciência estão conscientes disto? Parece que não!
Fonte: JornaldeNoticias